As questões ligadas à segurança alimentar vem ganhando destaque nos últimos anos, principalmente após a pandemia da COVID 19. Os riscos à produção de alimentos em larga escala aumentaram graças ao agravamento das crises climáticas devido à exploração irresponsável dos recursos naturais do planeta por uma pequena parcela da humanidade. As populações mais pobres em geral são as primeiras a sentir estes impactos, mesmo sem dispor dos recursos necessários para fazer estes enfrentamentos.

Com a produção de alimentos concentrada nas áreas rurais enquanto a grande maioria das pessoas vive em áreas urbanas, muitas questões interferem nos processos de armazenamento e distribuição, fazendo com que produtores/as e consumidores/as sejam prejudicados/as caso algo não saia como esperado. Durante o trajeto os preços vão aumentando a cada etapa, ainda mais se existirem atravessadores e intermediários.

Recentemente a alta do preço dos combustíveis no Brasil fez com que o valor dos alimentos disparasse, elevando a inflação e deixando milhões de pessoas sem comida (estima-se que em torno de 33 milhões). 

Uma das consequências disso é que milhões de crianças não têm acesso à alimentação adequada, (ou mesmo mínima) em um momento crucial de seu desenvolvimento. E como já dizia a escritora Carolina de Jesus (autora de Quarto de Despejo - Diário de uma Favelada): "Quando uma criança passa fome é problema de todo mundo!".

Para resolver definitivamente esta questão precisamos estar dispostos a transcender nossas diferenças e unir forças, envolvendo esforços governamentais, da iniciativa privada e da sociedade civil (organizada ou não), já que cada um pode cuidar de um aspecto diferente desta e de outras questões. 

Diante deste cenário, um movimento que envolve as comunidades na produção dos alimentos que consomem, gerando renda para os/as/es mais vulneráveis, saúde mental e fortalecimento de vínculos vem ganhando força em todo país: as hortas comunitárias.

Elas surgiram com o objetivo de acabar com o acúmulo de lixo e outros problemas de saúde pública em terrenos vazios e hoje promovem diversos benefícios às comunidades. No Brasil, uma das primeiras hortas foi criada em 1980, na cidade de Birigui, em São Paulo.

São iniciativas que giram em torno do plantio e do cultivo de alimentos pela comunidade para a comunidade, sendo administrada por voluntários e moradores locais, podendo contar também com apoio técnico. Desde as primeiras experiências são utilizadas para resolver problemas sanitários de algumas áreas, já que são implementadas em terrenos baldios ou subutilizados, criando um ponto verde em uma região. Acabam se tornando também excelentes espaços de convivência pras famílias, oferecendo bem-estar a toda comunidade.

Algumas possuem um caráter social de produzir alimentos saudáveis e gerar renda para quem há muito já foi esquecido pelo mercado de trabalho, ou como mote de sobrevivência contra desigualdades estruturais. E outras, instaladas em bairros de classe média, possuem um valor mais simbólico de resistência à frenética urbanização das cidades e mostram uma nova relação de consumo com o alimento.

 A seguir você vai encontrar informações sobre os principais benefícios que estas atividades têm gerado e exemplos práticos de como funcionam as hortas comunitárias espalhadas pelo Brasil!

Principais benefícios:

Alimentos saudáveis disponíveis perto de casa

Um dos principais benefícios das hortas comunitárias é proporcionar uma grande diversidade de alimentos frescos e orgânicos às pessoas que moram nas regiões em que foram implantadas, ampliando o acesso a uma alimentação mais diversificada e saudável. É possível escolher os alimentos, acompanhar como é feito o manejo e aproveitar todos os benefícios de uma dieta livre de resíduos químicos que causam tantas doenças!

Geração de renda

Nos projetos em locais periféricos e/ou mais vulneráveis, às hortas comunitárias geram inclusão e acesso à renda aos moradores e moradoras da região. Em alguns casos, onde são organizadas como política pública, os canteiros são divididos entre as famílias em situação de vulnerabilidade cadastradas nos programas de assistência social que vivem na região. 

Fortalecimento de vínculos comunitários

Proporcionando espaços de convivência saudáveis as relações comunitárias tendem a se fortalecer e o cuidado coletivo com outras questões da comunidade passam a ser compartilhados entre as pessoas envolvidas.

Transformação de áreas abandonadas

A ocupação de áreas que anteriormente estavam abandonadas, juntando entulhos ou servindo de ponto para atividades ilícitas, acaba deixando a vizinhança mais bonita e segura, o que valoriza os imóveis da região e dá mais tranquilidade para que a população circule pelo bairro, melhorando a qualidade de vida de todo mundo.

Aproveitamento de resíduos

Com a implantação das hortas comunitárias, as comunidades podem destinar seus resíduos orgânicos, transformando-os em adubo por meio da compostagem ou vermicompostagem. Isso soluciona um importante desafio da administração pública, que é a dificuldade de reaproveitamento dessa parcela dos resíduos. Assim uma parte importante do lixo doméstico deixa de ser enviada para os lixões e aterros sanitários e vira substrato para a produção de alimentos para a própria comunidade. 

Melhora na alimentação

Além de criar hábitos alimentares mais saudáveis, o consumo de uma dieta mais balanceada auxilia no fortalecimento da imunidade do organismo, ajuda a evitar a subnutrição e contribui no combate de doenças como a hipertensão e o diabetes, proporcionando uma alimentação rica e uma vida mais equilibrada.  

Melhora da saúde física e mental

Ao estimular o contato com ambientes naturais, a conscientização da preservação ambiental é trabalhada e se torna parte da comunidade, criando um vínculo forte e consolidado entre as pessoas e a natureza. Isso ajuda a fortalecer a saúde mental das pessoas envolvidas, impactando diversos aspectos da vida e relações da comunidade.

Experiências de hortas comunitárias no Brasil:

As experiências de hortas comunitárias no Brasil e no mundo tem demonstrado que é mais fácil encontrar caminhos para enfrentar as crises atuais encarando os desafios coletivamente.

Abaixo você encontra alguns exemplos dessas iniciativas espalhadas pelo Brasil.

São Sebastião - DF

Manguinhos - RJ

Jaraguá do Sul - SC